CONTRIBUIÇÃO AO TRABALHO DE ASSESSORIA POLÍTICA
Na verdade um dos trabalhos mais difíceis de ser exercido é de assessoria do Partido dos Trabalhadores. O assessor acaba trabalhando para ilustrar o ego de seu “chefe– companheiro”, que não procura estabelecer uma diretriz política e uma militância que se afine com o projeto político que é defendido pelo parlamentar e ou a estância de poder que a assessoria representa. Embora se dispense a leitura de Marx, como se fora algo já conhecido e assimilado, é fundamental relembrar alguns conceitos inequivocamente comprovados e que deveriam nortear o entendimento das relações dentro do Partido dos Trabalhadores e das organizações que se reivindiquem de uma posição de “esquerda”. È preciso estabelecer uma coerência entre o que se prega e o que se faz, portanto o respeito com os trabalhadores do Partido e das organizações devem ser regidos por normas que neguem a forma de exploração capitalista, e a nefasta política de alienação existente nas empresas capitalistas.
O conceito de alienação é histórico. A história afirma que o homem evoluiu de acordo com seu trabalho. Portanto, a diferença do homem está na sua criatividade de procurar soluções para seus problemas, então com a prática do trabalho desenvolve seu raciocínio e sempre aprende uma “nova lição”. A alienação pode também ser chamada de "alienação fiduciária" em que a transferência do título de propriedade se dá pela confiança.
Karl Marx, filósofo alemão, se preocupava muito com essa questão de alienação do homem, principalmente em duas de suas obras, “Os “Manuscritos Econômico-Filosóficos de 1844” e “Elementos para a Crítica da Economia Política” (1857-58)”. Procurava demonstrar a injustiça social que havia no capitalismo, afirmando que se tratava de um regime econômico de exploração, sendo a mais-valia uma grande arma do sistema. Assim, a alienação se manifesta a partir do momento que o objeto fabricado se torna alheio ao sujeito criador, ou seja, ao criar algo fora de si, o funcionário se nega no objeto criado. As indústrias utilizam de força de trabalho, sendo que os funcionários não necessitam ter o conhecimento do funcionamento da indústria inteira, a produção é totalmente coletivizada, necessitando de vários funcionários na obtenção de um produto, mas nenhum deles dominando todo o processo - individualização.
Por isso, a alienação no trabalho é gerada na sociedade devido à mercadoria, que são os produtos confeccionados pelos trabalhadores explorados, e o lucro, que vem a ser a usurpação do trabalhador para que mais mercadorias sejam produzidas e vendidas acima do preço investido no trabalhador, assim rompendo o homem de si mesmo. entanto, a produção depende do consumo e vice-versa. Sendo que o consumo produz a produção, e sem o consumo o trabalhador não produz. A produção consome a força de trabalho, também sustentando o consumo, pois cada mercadoria consumida vira uma mercadoria a ser produzida. Por conseguinte, ao se consumir de um produto que não é por si produzido se fecha o ciclo de alienação. Pois, quando um produto é comprado estará alimentando pessoas por um lado, e por outro colaborando com sua alienação e suas respectivas explorações.
Em síntese, para melhor compreender o problema da alienação é importante observar sua dupla contradição. Por um lado, há a ruptura do indivíduo com o seu próprio destino e há uma síntese de ruptura anterior, que apresenta novas possibilidades de romper à mesma alienação. O outro lado se apresenta como uma contradição externa, sendo o capital tentando tirar suas características como humano, que leva o homem a lutar pela reapropriação de seus gestos.
O importante não é mais o sentimento, a consciência, pensamentos, mas sim o que a pessoa tem. Sendo o dinheiro o maior fetiche desta cultura, que passa a ilusão às pessoas de possuir tudo o que desejam a respeito de bens materiais.
É muito importante também destacar que alienação se estende por todos os lados, mas não se trata de produto da consciência coletiva. A alienação somente constrói uma consciência fragmentada, que vem a ser algumas visões que as pessoas têm de um determinado assunto, algumas alienadas sem saber
O conceito de alienação é um conceito histórico na medida em que tem aplicação analítica numa relação mútua entre sujeito, objeto e circunstâncias concretas específicas.
É no desenvolvimento do modo de produção capitalista e de sua particular e específica forma de produção material que Marx desenvolve o conceito da alienação. Manuscritos. Nos “Manuscritos Econômico-Filosóficos de 1844” e "Elementos para a Crítica da Economia Política" (1857-58) se desenvolve o primeiro confronto de Marx com a Economia Política e é explorada, pela primeira vez, a idéia da "alienação do trabalho" e suas conseqüentes determinações a todas as esferas da vida social. Marx realiza a primeira formulação concreta da especificidade da alienação na sociedade burguesa - o problema do fetichismo -. A definição teórico-analítica desta dimensão particular da categoria da alienação ocorre em função da análise do conjunto de mediações histórico-concretas responsáveis pela afirmação do valor de troca como forma determinante de intercâmbio econômico-social e de interação sócio-cultural da sociedade burguesa.
Nos Manuscritos, o trabalho aparece como a objetivação primária do ser social e é por se objetivarem que os homens podem constituir sua subjetividade, sua personalidade enquanto determinação individual específica. Mas esta é determinada ontologicamente na totalidade das condições sociais, e é nelas e a partir delas que a subjetividade é historicamente formada e mudada. È mutável uma vez que as condições são produzidas pelo homem social, são o produto da auto-criação humana.
Uma subjetividade rica é formada no processo de socialização com a apropriação cada vez maior da riqueza social existente, ou seja, da massa de objetivações dispostas pela sociedade. Em outras palavras, a riqueza do homem é a riqueza de suas relações sociais. O homem é assim entrelaçado e criado em relações inter-humanas históricas e concretas. È um produto da sociedade e também o seu criador:
É na sua acepção histórica particular nos moldes capitalistas - na forma da "divisão do trabalho, troca, propriedade privada” - que a atividade teleológica se torna trabalho assalariado. Ao invés de ser uma objetivação e o elemento mobilizador da sociabilidade que realiza uma subjetividade rica, o trabalho aqui se transforma no seu contrário: aliena o homem ao invés de objetivá-lo, passa a ser o que o avilta e mutila, aparecendo como a base de toda alienação. O homem é dominado por aquilo que ele cria, o que o impede de fazer a passagem do singular para o genérico, expressando uma sociabilidade marcada pelo caráter individualista e egoísta. "A atividade produtiva é, portanto, a fonte da consciência, e a ‘consciência alienada’ é o reflexo da atividade alienada ou da alienação da atividade, isto é, da auto-alienação do trabalho”.
Partindo da atividade produtiva como elemento ontológico fundamental da constituição do ser social e de uma consubstanciação das categorias em termos históricos concretos, a abordagem marxista da natureza humana está numa perspectiva radicalmente oposta às concepções estáticas, a-históricas e naturais da economia política (substitui o indivíduo histórico e socialmente concreto pela imagem idealista de uma "natureza humana" abstraída de todas as determinações sociais).
Nos Manuscritos o "princípio do individualismo" passa a ser analisado como uma manifestação ontológica da alienação do homem no trabalho. ”O egoísmo não é inerente e não é a característica definidora da natureza humana, esta é transformada, pela própria atividade humana e pela sociabilidade (isto é, "o conjunto das relações sociais") naquilo que é. Assim, o verdadeiro eu é um eu social e, em decorrência, a compreensão da individualidade não pode ser calcada em qualidades abstratas inerentes ao indivíduo isolado, mas na análise histórica concreta do caráter da sociabilidade. È esta que define a natureza humana, pois esta não pode ser encontrada dentro do sujeito, mas nas suas relações objetivadas”.
As análises feitas por Marx em 1844 têm como foco descrever como se explicitam as manifestações dos processos alienantes nos indivíduos e nas suas formas de sociabilidade no interior da sociedade fundada na produção mercantil e na troca. Derivada a partir da propriedade privada e consolidada pelas repartições da economia mercantil (divisão do trabalho, troca) a alienação parece alcançar uma característica histórica generalizante que culmina nos marcos da sociedade burguesa.
É nas reflexões presentes em "Elementos para a Crítica da Economia Política" que a particularidade histórico-social da essência econômica da sociedade burguesa alcança sua concretude investigativa. A superação desta abordagem abstrata está na análise precisa da forma do produto mercantil -mercadoria- que Marx objetivamente define como "célula econômica da sociedade burguesa" raiz em que o fetichismo se universaliza. È no contexto destas proposições que se articulam duas realizações teóricas do movimento histórico que confluem concretamente na emergência do modo de produção capitalista: análise da sociabilidade numa perspectiva ontológica de seus alicerces.
Este modo de produção cristaliza o produto do trabalho na forma mercadoria, engendrando uma ambiência mística que oculta o caráter social que fundamenta a sua produção. As relações sócio-humanas são invertidas: de relações entre pessoas convertem-se em relações entre coisas.
O trabalho humano é considerado não só trabalho concreto (atividade e produto determinado), como também trabalho abstrato, geral, pois só assim os produtos do trabalho podem ser equiparados e trocados. Assim, o produto do trabalho torna um fetiche na medida em que se converte em partícula de um trabalho geral, abstrato, isto é, como mercadoria.
A alienação desenvolve-se quando os indivíduos não conseguem discernir e reconhecer o conteúdo e o efeito da sua ação interventiva nas formas sociais. Marx parte de um conceito geral da alienação para uma concepção como fenômeno que deve ser recuperado em seu processo histórico, como produtos históricos particulares que necessitam ser investigado concretamente.
Da análise daquelas categorias que se deve partir para "desmistificação" das relações sociais. Não obstante, as relações econômicas e os resultados de sua investigação não determinam e não podem ser simplesmente transferidos mecanicamente para todo conjunto complexo das inter-relações sociais. O específico destas tem que ser identificado em suas múltiplas mediações internas e externas e em suas interligações estruturais fundamentais.
Pensar o processo de alienação num universo no qual, teoricamente, “patrões e empregados” são “companheiros”, é preciso refletir sobre como qualificar a divisão de tarefas num escritório, entre o serviço dito “burocrático” e o investimento no rompimento da barreira de “alienação”, possibilitando ao conjunto de pessoas envolvidas no trabalho o acesso à formação política, a uma visão do conjunto do trabalho político efetuado pelo coletivo. Como se constrói um trabalho num escritório do mandato de um Parlamentar que se diga comprometido com a luta dos trabalhadores.
Um Escritório Político tem a função de dar algumas respostas políticas às demandas do Parlamento ou da estância do Poder que representa acima de tudo ele é um canal vivo de comunicação entre as chamadas “bases” que elegeram o parlamentar e que se articulam através de grupos políticos que deveriam fornecer instrumental de politização das demandas; rompendo com o clientelismo, oxigenando o mandato exercido nas estâncias de poder, que no seu cotidiano tornam-se distante das suas bases.
Para dar resposta às essas demandas é fundamental ter no “staff “desse escritório político não burocratas, mas militantes, que independentemente das tarefas cotidianas, tenham a competência para dar respostas políticas, ajudar a organizar as regiões e não como meros “atendentes” de demandas assistencialistas. Militantes com um suporte teórico e prático para administrar crises, dar suporte político na formulação às demandas por mais específicas que sejam de forma que sirvam para mostrar, aos que procuram o serviço do escritório político, serem elas parte de um contexto da luta de classe, de interesses de poderes e o papel do parlamentar como um defensor do poder popular e os interesses do proletariado.
A tarefa destes militantes não pode ser cerceada pela vaidade centralizadora do parlamentar (ou dirigente) que deve entender que seu mandato (ou poder) é representativo de um conjunto ideológico, e por companheiros com os quais ele deve ter afinidade política e não a moeda de troca das “garrafinhas” de voto.
Desta forma ficaria claro, no acompanhamento da demanda trazidas ao escritório político, quais os empecilhos que institucionalmente o sistema apresenta e quais as possibilidades de conquistas através da organização independente do trabalhador enquanto classe e aí sim a possibilidade do atendimento de um programa mínimo através do Parlamento dentro deste sistema político e as reivindicações que só serão possíveis através de um processo revolucionário que destrua o poder existente e crie uma alternativa de poder socialista, um poder que represente o proletariado (sem medo de utilizar as palavras que historicamente definam as classes sócias existentes, o sistema dominante e o sistema que deve ser nosso projeto criar).